quarta-feira, 14 de setembro de 2011

a história da minha vida.


“Chamo-me Laura e tenho actualmente 16 anos. Nasci a 13 de Março de 1995. Quando era pequena tive uma vida difícil, apesar de não me recordar de nada do que vivi… A minha mãe, a minha heroína, é que me conta algumas coisas pelas quais passei. Eu sofri nas mãos do meu próprio pai, sofri mesmo, apesar de não fazer ideia do que possa ele ter-me feito. Mas sei que a minha mãe tinha uma vida triste, e sentia-se desiludida por nos ter dado um pai como aqueles. Quando tinha 2 anos de vida a minha mãe engravidou do meu irmão mais novo, o Tony, e a partir desse momento as atenções deixaram de ser minhas e passaram a ser totalmente dele, eu passei para segundo plano e ele passou a ser tudo para a minha família. Eu sentia-me e ainda sinto-me mal por ser sempre assim… O meu irmão mais velho não sente isso porque já era grande quando ele nasceu, já tinha tido toda a atenção para si. Mas eu não sei bem definir o que é termos a atenção da nossa família só para nós, não sei. Não odeio o meu irmão, longe disso, mas sinto ciúmes por ele ter tudo e eu não. Depois de o meu irmão nascer as coisas complicaram-se, os meus pais divorciaram-se, eu passei a viver em casa da minha tia e depois vim morar para a minha actual casa.
Felizmente não sofri muito com a separação dos meus pais, nem eu nem o meu irmão mais pequeno, já o meu irmão mais velho não pode dizer o mesmo, pois ele lembra-se de muitas coisas. Até foi bom eu e o meu irmão não termos percebido o que se passava na nossa vida, éramos bebés, inocentes e frágeis, mas não foi por isso que deixamos de sofrer depois quando crescemos. Todos os dias quando ia para a escola ia com o meu irmão mais velho, e não havia um dia em que não chorasse, estavam sempre a fazer-me mal, talvez por verem a pessoa frágil que eu era, sim, os meus colegas de turma faziam-me mal, as raparigas batiam-me e eu com medo fugia para ao pé da funcionária, que ainda hoje passa por mim e dá-me um enorme sorriso. Eu dizia todos os dias à minha mãe, dizia à nossa professora, mas ninguém fazia nada… E assim passei 5 anos da minha vida. Todos os dias ao sair da escola o meu pai estava lá à minha espera para me ver ou falar comigo, mas eu tinha medo dele, chorava, esperniava porque não queria ir ter com ele, pensava que ele me poderia levar consigo e nunca mais viria a minha mãe, a minha família. Às vezes a funcionária levava-me até ele e ficava lá comigo, para eu não chorar mais, para eu me sentir segura, protegida. Hoje em dia eu já não tenho medo dele, tenho raiva, porque agora eu percebo o mal que ele fez à minha mãe, percebo o quanto ele já fez a minha família sofrer, e por isso eu não o irei perdoar nunca…
Quando fui para a escola Gaspar Fructuoso tudo mudou, fiquei apenas com 3 raparigas da minha turma da escola de infância, eu fiquei tão feliz por as outras terem ficado noutra turma, porque sabia que já não me iriam fazer mal nenhum, sabia que agora tudo iria ser diferente, em excepção a algumas coisas… Como sempre o meu pai fazia questão em vir ter comigo à escola às vezes, mas eu já não chorava, já não tinha mais medo dele, eu tinha tornado em uma menina forte e corajosa. Falava com ele o que tinha para falar e depois seguia o meu caminho para casa como sempre fazia.
Fui para a Escola Secundária da Ribeira Grande, a turma manteve-se em excepção a alguns alunos que mudaram de turma, e outros que entraram, foi um novo caminho na minha vida quando fui para aquela escola, ainda me lembro do quão nervosa sentia-me por ir para aquela enorme escola, até chorei no dia antes, deitada na cama, com medo de que algo corresse mal, mas pelo contrário, foram 3 anos da minha vida muito bons, conheci gente nova, foram amizades fortes…
Mas a minha vida não se deixou ficar por esse mar de rosas. Um dia cheguei a casa e fui lanchar como de costume, fazer os trabalhos de casa… passadas algumas horas a minha mãe chegou e disse que ia fazer uma mamografia, porque foi o meu irmão que a obrigou, porque por ela, ela nunca a faria. O dia em que ela foi fazer a tal mamografia foi stressante, eu estava preocupada, tinha medo. Acho que os meus dois irmãos foram com a minha mãe mas eu não, ela pediu-me para ficar a limpar a casa. Eu estava no sofá sentada, quando a campainha tocou, eram eles, vinham todos com caras sérias, vi logo que havia algo de mal, perguntei o que se passava e a minha mãe disse que tinha cancro no peito esquerdo, fiquei logo preocupada, cheia de nervos, só me apetecia chorar, mas não o fiz, não em frente à minha mãe, quando a minha mãe disse aquilo o meu coração disparou, o meu irmão, o Tony, desatou a chorar e eu mandei-o parar, estava furiosa. Continuei o meu dia nas calmas, como se nada tivesse acontecido, sim eu não queria acreditar que era mesmo verdade. Mas quando fui dormir aí sim, chorei que nem um bebé, e sentia a minha mãe a chorar no quarto com o meu irmão, o que me deixava de tal forma angustiada.
Marcaram logo a operação para ela. A minha mãe foi para o hospital no dia da festa da rua da minha tia, eu e o meu irmão pequeno só chorávamos com medo, e o meu irmão mais velho ria-se, sim, porque os nervos dele dão-lhe para rir como um parvo, o que me irritava. Fomos para casa da minha tia e lá nos acalmamos um pouco.
Foi apenas uma pequena parte, e disseram que ela já estava bem, que já não tinha nada, ficamos todos tão felizes, o pesadelo tinha acabado, ela não precisava fazer tratamentos nenhuns, podia viver normalmente a sua vida.
Mas ligaram-lhe para casa, era do hospital, era para ela ir lá fazer mais uma mamografia, não achei normal, mas pensei que devia ser de rotina, uma vez mais eu não fui, acho que não me sentia capaz de ir junto com ela.
Estava em casa ansiosa para que ela chegasse. Ela chegou e deu-nos novamente uma má notícia, o cancro tinha-se espalhado pelo peito, tinha de ser operada novamente, e eu tinha muito medo. Lembro-me de que a Rita estava em minha casa quando ela foi para o hospital, e lembro-me também de que foi ela que me limpou as lágrimas sempre que chorava por causa disso. A minha mãe foi para o hospital num dia de manhã, eu estava na cama mais a minha Rita Melo, e senti a minha mãe a ir-se embora mas não me senti capaz de ir despedir-me dela, e a Rita pegou na minha mão e disse que ia tudo correr bem.
Nos dias seguintes estávamos ansiosos por saber como tinha corrido a operação, e felizmente correu tudo bem, passámos a ir visitá-la, estava ainda anestesiada. Depois houve um dia em que fomos novamente visitá-la, e os meus tios pediram que eu e o meu irmão ficássemos na sala de espera, para eles irem primeiro, a nossa surpresa foi quando vimos os meus tios junto com a minha mãe a vir para cá, ela teve alta, ficamos tão felizes por ela, ela ia finalmente para casa. A partir daí começou tudo a correr bem, passei a ajudar muito mais a minha mãe.
Fui estudar para a Escola Secundária Antero de Quental, foi a enorme mudança na minha vida, tive de habituar-me a novos hábitos, a novas modas, a acordar cedo, a outras pessoas, não conhecia quase ninguém lá.
Mas agora digo com todas as certezas que os meus melhores amigos estão lá, que todos os meus amigos lá me fazem felizes, mas existem, claro, aqueles que não são de lá e que me fazem mais feliz do que ninguém.
Às vezes até tem alguns que falam sobre os pais, sobre o carinho que estes lhes dão e etc, e eu fico calada sem saber o que dizer porque não sei o que é ter carinho do nosso pai, não sei o que é ter um abraço de conforto do nosso pai nas horas más, mas a minha mãe é a minha mãe e o meu pai, e eu amo-a muito, e admiro-a por tudo o que já passou.
E esta é a história da minha vida.”


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